Soldado do Amor
Ele acreditava que cada pessoa estava no mundo por um motivo. E não sabia qual era o seu. Não era bom filho, bom irmão, bom aluno. Não praticava nenhum esporte. Nem nada artístico. E sabia que não seria bom pai, pois odiava crianças. O que estaria fazendo ali então?
Um dia, no colégio, percebeu que as meninas da sala estavam quase todas tentando se aproximar dele, cada uma de uma forma mais estranha que a outra. Nunca tinha acontecido nada parecido antes e ele foi tentar entender. Descobriu que ele tinha sido eleito o “gatinho” da sala e que as meninas tinham feito uma aposta para ver qual delas ficaria com ele primeiro. Pensou em fazer um acordo com uma delas para ficar com metade do dinheiro. Mas não! Estava com raiva! Não iria fazer negócio com nenhuma delas!!! Muito menos ficaria com alguma!
Pensando em vingança, lembrou da menina de cabelo na cara que sentava na ponta da sala. Ela não falava com nenhuma daquelas outras. Certamente não participava dessa palhaçada! Foi conversar com ela já com o golpe todo planejado.
- Olha, você entra nessa aposta, passando uma semana a gente fica. Prometo! Aí você ganha um dinheirinho e a gente ainda se vinga dessas criaturas. Aceita?
E ela aceitou. Ele, além de muito bonito, tinha um forte magnetismo. E ela tinha sérios problemas de auto-estima, muitos até provocados pelas meninas de quem eles iam se vingar. E ainda o dinheiro...
Ficaram uma vez. Ela recebeu o pagamento e foram torrar juntos no fliperama. E ficaram de novo. E começaram a namorar. E ela tirou o cabelo da cara depois de receber elogios sobre seus olhos. Agora, olhos felizes. Ao contrário dos olhos de inveja das meninas do colégio.
Três meses depois, ela acabou o namoro. Agradeceu o período. Sentia-se bem. Tão confiante que iria se aproximar do menino que ela realmente gostava. O carinha de óculos que sentava na outra ponta...
Ele descobriu sua função social: levantar a auto-estima das pessoas. Passou a ir às festas e ficar com as meninas mais isoladas e carentes. Dependendo da situação, namorar por algum tempo. E fazer elas acreditarem que têm seu poder, seus atrativos, por mais que os outros não tivessem percebido ainda. Não fazia isso por falsidade, ou pena. Realmente gostava e se sentia bem. Amava e se sentia amado, mesmo que não durasse muito.
E passou anos e anos de sua vida vivendo de amor. Sem se importar com as opiniões dos amigos ou de quem mais o cerca. Tanto é que um dia viu um rapazinho sozinho e carente e foi tentar ajudar. E gostou. Hoje, levanta a auto-estima de outro carinha há 8 meses...
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