Mariazinha costuma pensar que tudo acontece por um motivo. E ficar procurando razões para cada coisa que acontece. Para cada passo que cada pessoa dá em cada lugar. Para cada gesto, cada atitude. Tudo tem uma fundamentação. Mariazinha não acredita em Deus nem em destino. Nem sorte, nem acaso. Acredita no homem e em sua capacidade de planejamento e transformação do mundo. Em sua capacidade de fazer as coisas visando seus objetivos. Ela não entende que uma pessoa pode não ter objetivos. Ou pode até ter, mas não se volta para eles o tempo todo. Uma pessoa pode ser simplesmente espontânea sem ter a intenção de demonstrar alguma coisa. E pode, sem querer, demonstrar algo completamente oposto ao que sente. Mas ela não. Está ligada o tempo todo, prestando atenção em seus passos, às vezes propositalmente tortos. Nada é sem querer. Tudo, desde o espreguiçar ao levantar da cama até a posição de dormir, é premeditado, cheio de significados ocultos. O problema não é ser assim, mas acreditar que todos são desse jeito. E tentar interpretar as mensagens que ela acha que cada gesto de cada pessoa transmite. Mariazinha quer ser psicóloga. Os colegas morrem de pena de seus futuros pacientes. Sugerem que ela se torne escritora, daquelas que colocam mensagens ocultas que só o autor consegue entender, enquanto os outros lêem de forma completamente diferente. Esse é seu talento. Cada um tem o seu, ou os seus. Mas ela não gosta de personagens fictícios. Gosta da verdade que enxerga por trás das pessoas. Prefere seus personagens reais.
pessoas entraram aqui.
